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Ensaios-->Em tempos de guerra: o papel da literatura -- 08/11/2001 - 19:49 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Para os alemães, a Primeira Guerra Mundial parece mais distante do que a Guerra dos Trinta Anos. A escritora britânica Pat Barker tornou a descobri-la literariamente, na Inglaterra, como uma guinada na História. E fez dela o ponto de partida para uma narrativa sobre homens e países dilacerados, sobre a escapada da catástrofe em direção à modernidade e sobre o funcionamento das guerras. Com 58 anos de idade, a escritora já lançou três romances sobre o tema. Em 1995, foi agraciada por esse seu feito com o Booker Prize. Na noite de sexta-feira, ser-lhe-á outornado o “WELT-Literaturpreis”, igualmente pela trilogia “Regeneration”. Quem conversa com Pat Barker é Wieland Freund.

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por Wieland Freund
trad.: zé pedro antunes
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DIE WELT: A senhora visita Berlim num momento histórico. O Parlamento alemão se encontra diante de uma decisão difícil: enviar tropas para o combate contra o Taleban.

Pat Barker: Posso compreender – dentro das possibilidades de uma pessoa estrangeira – que, à luz da história alemã, o envio de tropas ao Afeganistão é uma decisão difícil. A história recente da Rússia me parece mais relevante, no caso dessa decisão. A Rússia manteve por dez anos uma guerra dispendiosa no Afeganistão – vindo a perdê-la.

DIE WELT: O 'WELT-Literaturpreis' contempla sobretudo a sua trilogia sobre a Primeira Guerra Mundial, um tema central do conjunto de sua obra. O que fez da senhora uma arqueóloga literária desse conflito?

Barker: Meu avô e meu padrasto lutaram na Primeira Guerra Mundial. Assim a história da minha família me sensibilizou para o tema. Além disso, na Grã-Bretanha, a Primeira Guerra Mundial é vista como o arquétipo de todas as guerras modernas. Na medida em que, pela primeira vez, a carne e o sangue humanos se viam confrontados com a tecnologia moderna. O dia 11 de novembro, o 'Armistice Day', no qual nós, britânicos, reverenciamos a trégua de 1918, é dedicado não apenas aos mortos das duas guerras mundiais, mas também aos milhões de mortos de outros conflitos desde então. Neste ano, os mortos de 11 de setembro estarão na memória de muitas pessoas, enquanto colhem papoulas e escutam o silêncio.

DIE WELT: Na memória dos alemães, a Primeira Guerra Mundial não está tão presente como a Segunda. Um erro de avaliação? Um erro histórico?

Barker: Nós, os britânicos, tendemos à compreensão da Segunda Guerra Mundial como resultado da Primeira, como a conta a ser paga pela amargura provocada pelo Tratado de Paz de 1919. Sem isso, eu acredito, seria difícil apreender, num contexto pleno de sentido, os acontecimentos trágicos que marcaram os anos de 1939 a 1945.

DIE WELT: Seu novo romance “A imagem contrária” se abre com uma citação de Joseph Brodsky. O passado, ela diz, precisa de um futuro.

Barker: Brodsky quer dizer que as gerações realizam as tentativas insistentes de dar sentido ao passado, e cada geração investe suas capacidades e suas experiências neste projeto. Assim, respectivamente, à geração seguinte é transmitida uma História que, num certo sentido, é enriquecida por tais esforços. Uma geração que não tem êxito neste empreendimento não continua sendo por muito tempo parte da sociedade humana civilizada.

DIE WELT: E que tarefa cabe ao esquecimento?

Barker: Acho que precisamos esquecer para que possamos permanecer próximos da razão, mas o processo formal da recordação é uma forma de dar aos seres humanos a permissão para o esquecimento. Às vezes, se diz que a ereção de um monumento marca o momento a partir do qual as pessoas, os sobreviventes, têm permissão para dar prosseguimento a suas vidas. Mas é o monumento que torna isso possível. Sem a obrigação correspondente da recordação, o esquecimento só conduz ao recalque. E aquilo que é esquecido acaba retornando como pesadelo.

DIE WELT: Depois de 11 de setembro, o termo “guerra” retornou às nossas falas. Frivolamente?

Barker: O termo “guerra” retornou de fato, e o fez, mais notavelmente, na imediata reação de George Bush aos atentados de 11 de setembro. Eu me pergunto se ele, hoje, não se arrepende? Se a expressão “ação policial” tivesse despertado expectativas menores e, com isso, tornado mais fácil tratar com a opinião pública? Tal como se deu, o acontecimento foi concebido como o início da primeira guerra do século XXI. Isso conferiu a Bin Laden, automaticamente, o status de um representante de um Estado soberano.

DIE WELT: E esta guerra é também um assunto a ser tratado entre homens?

Barker: Bem, Bin Laden diria que sim. Mas enquanto não se provar que cada uma das mulheres recobertas de véus na realidade não passa de uma jornalista de TV, a resposta deve ser não. As vítimas da guerra são, como sempre, de ambos os sexos e de todas as faixas etárias. E o espectro inteiro dos prós e dos contras desta guerra é expresso igualmente por homens e mulheres.

DIE WELT: Qual é, em tempos de guerra como estes, a tarefa central da literatura?

Barker: Como sempre, a tarefa é levara as pessoas ao mesmo tempo ao raciocínio e ao sentimento, de modo que as idéias e os sentimentos não passem a compor um par de opostos, mas partes de uma reação, que possa fazer justiça à complexidade da situação na qual nos encontramos.

DIE WELT: Depois de 11 de setembro, muitos escritores fizeram diretamente uso da palavra. De acordo com isso?

Barker: Quando os aviões atingiram as torres, os circunstantes – cristãos, judeus, muçulmanos e ateus – gritaram juntos: “Oh, my God!”. Nada do que os escritores lograram baixar ao papel depois dos acontecimentos conseguiu acrescentar o que quer que seja a esta exclamação.

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O “WELT-Literaturpreis” [jornal DIE WELT, Berlin], no valor de 25.000 Mark, é atribuído anualmente no dia 9 de novembro. Com ele, são agraciados escritores que, com o seu trabalho, consideravelmente ultrapassaram os limites intelectuais do seu tempo. Os premiados são determinados por um júri de cinco pessoas. Até aqui, Bernhard Schlink e Imre Kertesz foram contemplados. O prêmio tem como patrono Willy Haas, fundador do suplemento 'Literarische Welt' [Mundo Literário].

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